segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O que 2012 trouxe, e o que ficou...



Passou rápido. Sim, sem dúvida que 2012 foi um ano veloz, que, subitamente, se viu às portas de uma nova entrada. Em termos literários, foi com algum pesar que mais um ano se passou. Não foram muitas, as mudanças, mas os desejos, esses sim, foram bastantes, aqueles que ficaram para trás, por se concretizar, por alcançar. Ainda assim, não posso dizer que tenha sido um ano mau, muito pelo contrário, prefiro denominá-lo como um ano que poderia ter sido melhor...
Com algum desalento, constato que foram percorridas menos páginas, menos histórias, em comparação com o ano anterior, e, numa análise profunda e inteiramente geral, as que vim a conhecer ao longo de todos estes dias, não foram, no real termo da palavra, assim tão impressionantes. Sim, algumas narrativas destacam-se, pela sua magnificência, pelo espanto que causaram, pela alegria que transmitiram, mas quando vou a contabilizá-las... não foram assim tantas quanto isso. Desse modo, este será um top ligeiramente mais pequeno mas, nem por isso, menos interessante.
Ainda em jeito de balanço, as opiniões podem não ter sido tantas quanto gostaria (algumas encontram-se ainda em atraso, de leituras de 2012, mas as quais espero publicar brevemente e, assim, inclui-las na sua lista correspondente), mas dúvidas não restam de que o Pedacinho continuou a crescer, ganhando novos seguidores, novos amigos, novos leitores. A todos vocês, companheiros das letras, bloguers e editoras parceiras, deixo-vos um gigantesco obrigado, do fundo do coração, pela companhia, pelo apoio, pelas oportunidades que me têm ofertado. Sem vocês, este cantinho não seria nem um terço do que é hoje! Assim, desejo-vos ainda uma excelente entrada em 2013, com os votos sinceros de que todos os vossos sonhos se vejam realizados, e de que todas as vossas preocupações se vejam ultrapassadas. Em suma, quero-vos tudo do melhor. =)

Agora... as leituras que mais marcaram o Pedacinho. Aviso, novamente, que nem todas se encontram com opinião publicada, mas, não haveria de ser por isso que as faria passar ao lado. Sem ordem de preferência, deixo-vos: 

os favoritos do ano

    
    
  

Para variar, deixo ainda três Menções Honrosas. Tratam-se de leituras que foram do meu inteiro agrado mas que, de alguma forma, se encontram um pouco abaixo dos mais espectaculares do ano mas, também, um pouco acima de todos os outros. 


as menções honrosas

  
  

Para 2013, e exlusivamente em termos literários, espero que não só o número de leituras aumente, como também a qualidade das mesmas. Quero impressionar-me. Quero deleitar-me com mundos maravilhosos, enredos dominantes e personagens fervorosas. Quero, essencialmente, que seja um excelente ano... para mim, e para vocês.

Até já!
Boas Leituras & Uma Excelente Passagem a Todos

domingo, 30 de dezembro de 2012

Antes de Vos Deixar, Lauren Oliver [Opinião]




Título Original: Before I Fall
Autoria: Lauren Oliver
Editora: Editorial Presença
Colecção: Diversos, N.º 120
Nº. Páginas: 371
Tradução: Marta Mendonça


Sinopse:

Samantha Kingston tem tudo: o namorado com quem há anos sonhava, três melhores amigas formidáveis e todos os privilégios que a sua popularidade lhe pode oferecer. Sexta-feira, 12 de Fevereiro, devia ter sido um dia igual a tantos outros. Nada faria suspeitar que iria ser o último...
Mas então, inesperadamente, é-lhe concedida uma segunda oportunidade. Ou melhor, são-lhe concedidas sete oportunidades. Durante uma semana, Samantha revive o último dia da sua vida, tentando perceber os mistérios que envolvem a sua morte – o que pode ou não mudar e até onde seria capaz de ir para se salvar – e descobrindo o verdadeiro valor de tudo o que está prestes a perder.


Opinião:

Existem livros especiais, leituras que, de alguma forma e com uma intensidade imensa, tocam, marcam e embalam o leitor numa viagem impressionante pelos vários contornos da vida, pelas várias emoções de mil e um dia-a-dia e pelas incríveis nuances que as opções, que as escolhas e as decisões moldam em seu favor. Estas são narrativas enternecedoras e, por vezes, tão simples, tão ingénuas e francas, puras, que por algum motivo transcendente, se transformam em histórias poderosas, eficazes e determinantes. Se transformam em histórias que ficam gravadas no inconsciente, e, também, no coração de muitos, e muitos leitores.

Antes de Vos Deixar trata-se de uma narrativa peculiar, curiosa, sobre uma vida que poderia ter seguido caminhos tão distintos entre si, tão divergentes, que se torna uma absoluta maravilha percepcionar cada diferença, cada particularidade, cada pequena mudança originada ao longo de sete inevitáveis oportunidades. Seguindo uma linha narrativa original, muito interessante, Lauren Oliver apresenta uma Samantha Kingston comum, popular, que rapidamente agarra o leitor na sua teia de convivências sociais e o leva consigo numa aventura etérea, quase imortal, onde, se tiver um pouco de sorte, se jogar as cartas certas, talvez, mas somente talvez, lhe seja dada uma nova possibilidade de... viver.
Lauren Oliver é detentora de uma escrita perspicaz, muito intuitiva e impossivelmente atraente. A forma como coloca à flor da pele, nas suas páginas, nas suas personagens, nos seus acontecimentos, todo e qualquer sentimento, toda e qualquer alteração, toda e qualquer descrição, é, no mínimo, admirável. E vislumbrar tudo isso enquanto leitora, sentir todas as emoções, experienciar todas as situações, viver todas as brigas, todas as alegrias, todos os amores, raivas, incompreensões e esperanças, é algo assombroso que, simplesmente, não consigo descrever, não consigo colocar em palavras.

O leque de intervenientes que povoa esta trama é do mais diversificado possível, mas são as características que definem cada um deles, as personalidades que os distinguem, a real essência que constitui esta obra, pois as acções que praticam, as emoções que expressam e as palavras que pronunciam, ditam muitas das ocorrências, e possíveis consequências, criadas. Sem os seus gestos, sem os seus desejos e medos, nenhum dos acontecimentos alguma vez teria tido lugar, e sem a força que Samantha adquire após cada erro, cada má experiência, cada engano, e que posteriormente canaliza no que está certo, no que é correcto, nada nesta história faria, alguma vez, sentido.

O trio que acompanha, de perto, a demanda de Sam, inconsciente da realidade percepcionada pela mesma, é do mais invulgar e, ao mesmo tempo, estereotipado possível. Lindsay é o pulso que comanda o grupo, aquela que toma as decisões, aquela que dita o bem e o mal, mas por baixo de uma carapaça robusta e serena, até bastante alegre, reside uma jovem criança que não soube ser corajosa, que não soube ser mais forte. Enquanto isso, Ally é a eterna seguidora, aquela que quer ser bonita, que faz o que lhe pedem, lhe mandam, sem qualquer hesitação. Mas pior ainda é Elody, uma adolescente que não consegue ver para além da felicidade que lhe tolda a visão, da perfeição que a sua vida pode, tem de ser. Mas todas elas escondem segredos, todas elas se camuflam em pessoas mais inteligentes, mais alegres, mais desenvoltas... e será com a reviravolta de um acidente, com o reviver constante de um dia que deveria ser feliz, ser igual a tantos outros, que cada uma delas, Samantha incluída, irá crescer, amadurecer e tornar-se um pouco mais... verdadeira, um pouco mais real.

Embora com uma participação algo pequena, gostei muito de Juliet, e acredito que esta seja a representação, a personificação de muitos jovens adolescentes de hoje em dia, que se vêm na posição de bobo da corte, de incompreendido, de marginal. Juliet foi, sem dúvida, uma personagem que me fez compadecer, que não mereceu a minha pena (porque tal seria injusto) mas que teve, e isso sim, o meu apoio e a minha amizade incondicional. O mesmo sucedeu com Kent, um rapaz que esconde o seu esplendor, a sua singularidade, na timidez que o acompanha, mas que, graças a Samantha, teve a sua oportunidade de brilhar.

A verdade é que muito existe por dizer sobre este livro, sobre o seu enredo, sobre as vozes que o constroem, mas o importante – o mais importante, aliás – são as mensagens que Antes de Vos Deixar sabiamente transmite, de que nunca devemos perder a nossa identidade, de que nunca devemos mudar por algo ou por alguém, de que não devemos esquecer ou descurar os nossos sonhos, abdicar das nossas esperanças, e de que temos, necessariamente, obrigatoriamente, de agarrar todas as oportunidades, de ultrapassar todos os receios, de arriscar quando não temos a certeza e de viver, ao máximo, cada dia, cada hora, cada segundo, pois nunca sabemos quando o inesperado, quando a morte, quando o fim ataca e, como tal, não devemos deixar nada por dizer, nada por fazer, nada por desejar.

Quanto a mim, não sei se foi do momento em que o li, se dos tópicos que aborda, se da magnifica escrita da autora ou se das personagens com quem convivi, mas a verdade é que adorei este livro com uma tal intensidade, com um tal fervor, que ainda agora sinto uma dificuldade imensa em expressar, em escrever, em colocar os meus pensamentos, as minhas reflexões, em palavras. Samantha conquistou-me e fez-me arrepiar no final, deixou-me deslumbrada com as suas atitudes, e condoeu-me com os seus intentos, com as suas frustrações, com os seus desesperos e observações, meditações sobre a vida e a morte, sobre o amor e o ódio, sobre a amizade e a perda. Uma personagem que me impressionou, que me maravilhou, num enredo que não só me fascinou como me deixou, perto do final, perto do virar da última página, com uma lágrima rebelde no canto do olho e com um sorriso esperançado nos lábios.

Uma brilhante e inovadora aposta por parte da Editorial Presença, numa autora que espero, ansiosamente, venha a ser presença assídua não somente na minha estante... como no catálogo da editora. Um livro para todas as idades, para todo o tipo de público. Um livro que marcará a diferença, pelo seu conteúdo, pela sua magnitude, e pelas suas mensagens. Adorei.

Para mais informações sobre a obra, consulte Antes de Vos Deixar

Novidade Planeta - «Hades», Alexandra Adornetto


Depois da leitura intensa e viciante de Halo, chega agora o segundo volume desta inesquecível trilogia romântica entre anjos e humanos que já arrebatou o coração de leitores e apaixonou a Disney.

Título: Hades
Autoria: Alexandra Adornetto
N.º Páginas: 356

Lançamento: Já disponível
PVP.: 19,95€

Sinopse: O anjo Bethany Church está prestes a cometer um grande erro e não tem qualquer razão para o fazer. Neste momento tem uma vida tranquila com o amor do namorado Xavier Woods e dos irmãos Gabriel e Yvi, mas decide que todos devem ter uma segunda oportunidade e é aliciada por Jake Thorn, para um perigoso passeio de mota. Nem Xavier nem os irmãos conseguem impedir nem demover Bethany de ir para a frente com o seu plano e tarde de mais ela percebe que o passeio acaba no inferno. Uma vez lá, Jake Thorn negoceia a libertação de Beth para que esta possa voltar à Terra. Mas o que ele lhe pede em troca não só a vai destruir como também aos seus entes queridos. Mas poderá Bethany voltar a confirar em Jake?

Sobre a autora:
Alexandra Adornetto tem 18 anos e tinha 14 quando publicou o primeiro livro, The Shadow Thief, na Austrália. Filha de professores de inglês, confessa-se uma compradora de livros compulsiva que, ao ver-se sem espaço nas estantes, amontoa as suas leituras em «pilhas instáveis, no chão do quarto». Alex vive em Melbourne, na Austrália. 

Imprensa:
«Esta série é absolutamente brilhante! Estou apaixonada pelo livro. As personagens são complexas e o enredo como uma montanha-russa de que não se quer sair. A escrita é bem estruturada mas lê-se com grande facilidade e todos o irão adorar. Alexandra Adornetto é um talento inato e mal posso esperar pelo próximo livro da série.»
Moonlight Book Reviews

Da mesma trilogia:


Passatempo «Crónica de Paixões e Caprichos» + «Peripécias do Coração», Julia Quinn


Em colaboração com a ASA, o Pedacinho Literário tem o prazer de oferecer um delicioso pack com dois dos mais divertidos romances deste ano, Crónicas de Paixões e Caprichos + Peripécias do Coração, da inconfundível Julia Quinn.

Para participar basta responder correctamente às questões que se encontram no formulário em baixo e preencher todos os campos obrigatórios. 
Por favor, tenha em atenção as regras do passatempo!
As respostas podem ser encontradas aqui, aqui e/ou aqui!


Regras do Passatempo:
1) O Passatempo decorrerá até às 23h59 do dia 3 de janeiro (quinta-feira).
2) Só é válida uma participação por pessoa e/ou e-mail.
3) Participações com respostas incorrectas e/ou dados incompletos serão automaticamente anuladas.
4) O vencedor será sorteado pela administração do blogue, posteriormente contactado por e-mail e o resultado será anunciado no blogue.
5) Só são aceites participações de residentes em Portugal Continental e Ilhas.
6) A administração do blogue não se responsabiliza pelo possível atraso e/ou extravio, no correio, de exemplares enviados.


Boa sorte!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

«A Branca de Neve e o Caçador» [Movie Bites]



Eu percebo, a sério que sim, mas...
Entendo que A Branca de Neve e o Caçador não seja, na sua real essência, uma adaptação literal, nem tão pouco linear, da clássica e enternecedora história d’ A Branca de Neve e os Sete Anões, mas, ainda assim, não me convenceu. Pelo menos, não por completo...
Sim, dúvidas não restam de que existem vários pontos de interesse, diversos aspectos tão belos, tão exímios e excelentemente concebidos, que alcançam um certo tipo de grandiosidade fílmica que me transcende. Porém, muitos são igualmente os elementos que se evidenciam pela negativa e pela abordagem algo comum, algo esperada, que provém já do conhecimento que o espectador tem sobre o desenrolar da história.


O início é quase perfeito...
Se a atmosfera envolvente de um caçador de cerrado sotaque escocês que narra uma vida sua conhecida, um passado que se mostrou sombrio, sobre como três gotas de sangue jorradas dos espinhos de uma única, forte e sobrevivente rosa vermelha por entre imensos flocos de neve acabaram por ser o começo de uma trágica e comovente história acerca dos indícios e das consequências da beleza eterna, é a sombra e o espectro curioso que cobre de mistério um espectador atento, a etérea Snow é a voz, o rosto que, por mais que tente, por mais que se esforce, simplesmente esmorece as expectativas e as grandiosas possibilidades que esta película poderia – aspiraria! – alcançar. É que com uma Charlize Theron impressionante, soberba no seu papel de eterna Rainha Má, seria de esperar uma igual força da natureza, com uma presença dominante, para sua adversária. E não consigo encontrar, em Kristen, a valentia e a credibilidade que essa personagem, essa Snow White, personifica. Sim, a beleza está lá, no interior, na pureza de coração, na elegância da cura, na alegria que advém da sua presença, mas a performance que a acompanha, o rosto que percorre uma muito limitada variedade de expressões, de emoções, de lágrimas ou sorrisos, não ultrapassa o estigma que, certamente, continuará a percorrer Stewart (sim, Bella encontra-se bem presente neste filme!). Talvez esta tenha sido uma escolha calculada – Twilight é um sucesso de proporções gigantescas –, talvez tenha sido uma decisão precipitada, mas tenha sido o que for, a mim, não me persuadiu (terei sido a única?).


A componente visual é, verdadeiramente, o que cativa, o que prende, o que faz todo e qualquer espectador apaixonar-se perdidamente. Os efeitos especiais estão spot-on e tendo em conta todas as nuances encontradas, desde os horripilantes bicharocos e «criaturas» da Floresta Negra à natureza e fadas da luminosa e brilhante Floresta Encantada, é absolutamente impressionante e, de se tirar o chapéu, ao resultado, à combinação, que este filme apresentou.
Também a realização foi uma surpresa. Rupert Sanders tem olho para o que é belo, e isso nota-se ao longo de toda a narrativa fílmica. Não só a beleza das paisagens, das caracterizações, do vestuário real, da contextualização histórica é algo que surpreende, como a própria efemeridade da imagem em si, do enquadramento, da sequência dos planos, é sublime.


No fim, ficam os desejos de algo mais. Fica a vontade de algo diferente. Fica o vazio de um conteúdo que não consegue igualar o seu «exterior». Foi agradável presenciar uma Snow mais destemida, mais aventureira, guerreira até, assim como uma Ravenna maléfica e maliciosa, corajosa inclusive, e um Huntsman robusto, com uma história bem mais profunda e sofredora do que o esperado, mas um beijo encantado que proveio de um homem que, apesar de querer abalar o passado, não é nenhum prince charming (no literal sentido da palavra), uma protagonista que não se mostrou forte o suficiente, e um leque de momentos que fizeram lembrar tantos outros de tantos filmes épicos, marcaram uma história, um filme que, a nível pessoal, pouco mais conseguiu ser que um regalo para os olhos. Uma pena, na verdade.


Alera - A Princesa Herdeira, Cayla Kluver [Opinião – Republicação]




Título Original: Legacy
Autoria: Cayla Kluver
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 418
Tradução: Maria José Figueiredo


Sinopse:

Uma  violenta rivalidade entre dois reinos ameaça evoluir para um estado de guerra. No meio deste conflito, uma princesa voluntariosa encontra-se dividida entre o dever e o desejo.
Obrigada a casar com o homem que o pai escolheu para lhe suceder no trono, a jovem princesa Alera de Hytanica vê-se forçada a enveredar pelo pior dos destinos, o casamento com o arrogante e colérico Steldor. Quando o misterioso e sedutor Narian chega a Hytanica, vindo do território inimigo trazendo segredos e noções inconcebíveis acerca do papel das mulheres na sociedade, os desejos de Alera põem em causa o futuro do reino.
A descoberta do terrível passado de Narian mergulha Alera no mundo obscuro de intrigas palacianas e conflitos pretéritos, a ponto de não saber em que acreditar, nem em quem confiar.


Opinião:

Estou verdadeiramente impressionada...
... e irremediavelmente curiosa com o futuro de um reino algo insensato e altivo e de uma Rainha (ou quase) cujas obrigações matrimoniais se encontram longe de serem sinceras e bem recebidas.
Alera – A Princesa Herdeira, ao contrário do que inicialmente por mim julgado, não é, de todo, um romance de fantasia. Ao invés, o leitor vê-se perante um livro incrivelmente bem estruturado, com uma linguagem excepcionalmente cuidada e envolvente – em especial tendo em conta que a autora tinha, somente, dezasseis anos quando o escreveu –, personagens intrigantes e de nomes invulgares e, claro, diante de uma obra com fortes e pronunciadas tendências de romance histórico, ainda que numa vertente mais light, fantasticamente orquestrado em torno de um enredo interessante, eloquente e de potencial bastante elevado.

Alera é a princesa herdeira de Hytanica e diz a tradição que, ao completar os dezoito anos, o ascensor ao trono deverá unir-se em matrimónio e tomar as rédeas do reino. Acontece que Alera, sendo mulher, nunca poderá ser chefe regente, tendo então de escolher um potencial pretendente por forma a torná-lo Rei e, por consequência, o mais alto soberano de Hytanica. O problema é que a pessoa escolhida pelo seu pai para ocupar o papel de pretendente principal – e, por ele, o único –, não suscita qualquer interesse positivo em Alera, tendo ela, inclusive, o considerado como um rapaz arrogante, pretensioso e altamente manipulativo. E é com a captura inesperada de um cokyriano em Hytanica e a curiosidade inevitável que este exercerá em Alera que proporcionará a esta a oportunidade ideal para se distrair da insistência de um Steldor indesejado e de um futuro incerto e sobre o qual não quer sequer pensar. Com inúmeros acontecimentos importantes pelo meio que porão em risco a sobrevivência de Hytanica e dos seus habitantes assim como o controlo do coração e acções de Alera por parte de um pai, por vezes, excessivamente influenciado, paranóico e protector, Alera – A Princesa Herdeira mostra-se assim como um romance atraente, por vezes divertido, com uma protagonista de peso e incrivelmente humana, e recheado de uma acção emotiva em constante mutação, que agarrará o leitor do princípio ao fim.

Pessoalmente, os aspectos que mais se destacaram foram a escrita e as personagens. Gostei, particularmente, de Narian por ter toda uma aura misteriosa em seu redor, mostrando-se ora vulnerável ora extremamente forte, e conseguindo sempre persuadir, surpreender e, principalmente, esconder todas as suas potencialidades. Alera também me despertou relativa curiosidade, provavelmente por ser a narradora e, instantaneamente, me ter identificado com ela. No entanto, penso que por vezes poderia ser mais convicta nas suas decisões, embora a considere uma personagem intelectualmente inteligente e perceptiva. London deixou-me com a pulga atrás da orelha. Sendo, durante grande parte da narrativa, o guarda encarregue de defender Alera, é automática a forma como o leitor se deixa convencer pela forma de agir dele e pelo relacionamento emotivo que desenvolve com a sua protegida. Finalmente, Steldor; estou bastante convicta de que esta personagem ainda tem muito para dar e, sobretudo, para mostrar. Fiquei com a estranha sensação de que ele esconde algo obscuro e inesperado, algo que irá definitivamente deixar o leitor boquiaberto – vamos ver se as suspeitas se confirmam!
Relativamente ao estilo, achei a escrita muito adulta e pensada, inteligente, coisa que não esperava de tão jovem autora. Cayla Kluver mostra conhecer eximiamente as suas personagens, descrevendo-as delicadamente, e apresenta um excelente trabalho em termo descritivo – tanto a nível social da época como sentimental da protagonista. Contudo, e aqui entra um aspecto negativo, achei que por vezes ela se deixava divagar um pouco, talvez demasiadamente embrenhada no psicológico de Alera, não trazendo, nessas vezes, nada de novo à história. Fora este pequeno pormenor, encontrei em Alera – A Princesa Herdeira uma narrativa muitíssimo madura, moderna no seu aspecto socialmente antigo, e, em dúvida, admirável. Admito estar desejosa de ler a continuação, em Fidelidade, visto este volume ter terminado de uma forma distintamente emblemática, deixando uma impressão de profundo mistério e perigo.

Cayla Kluver abre assim o apetite a um leitor emocionalmente arrebatado por deslumbrante e encantador romance. E mesmo com algumas falhas normais de uma obra de estreia, a autora consegue deixar o bichinho bem lá no íntimo do leitor de modo a cativá-lo e a motivá-lo para a continuação que já ansiosamente se espera.
Distinto. Diferente. Curioso. Notável. Alera – A Princesa Herdeira é um romance que o irá agarrar do primeiro capítulo à última frase, quase sem lhe dar hipótese para respirar e repousar por um bocado. Com um toque romântico mas igualmente guerreiro, esta é uma obra que vai querer ler.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uma Morte Súbita, J. K. Rowling [Opinião]



 
Título Original: The Casual Vacancy
Autoria: J. K. Rowling
Editora: Editorial Presença
Colecção: Grandes Narrativas, N.º 537
Nº. Páginas: 494
Tradução: Alberto Gomes, Manuel Alberto Vieira, Marta Fernandes & Helena Sobral


Sinopse:

Este surpreendente romance sobre uma pequena comunidade inglesa aparentemente tranquila, Pangford, começa quando Barry Fairbrother, membro da Associação Comunitária, morre aos quarenta e poucos anos. A pequena cidade fica em estado de choque e aquele lugar vazio torna-se o catalisador da guerra mais complexa que alguma vez ali se viveu. No final, quem sairá vencedor desta luta travada com tanto ardor, duplicidade e revelações inesperadas? 


Opinião:

A revolução inicia-se com o anúncio de uma morte súbita. Após traçada essa linha, o burburinho torna-se no som reinante em Pagford, uma comunidade que tanto possui de simples quanto de complexa, e que, numa viragem a descoberto, se vê assolada pela destruição, pela antipatia e pela mesquinhez, mas, acima de tudo, pela realidade palpável que transparece. Muitos são os rostos da violência, os que só se interessam por si, os que buscam uma segunda oportunidade, mas mais importante que isso, são os segredos, as duplicidades, as aparências que, com tanta intensidade, simplesmente iludem...

Uma Morte Súbita não é um romance simples, linear. Não é um romance que se leia de ânimo leve nem um romance para qualquer leitor. Não é um romance de «meios-termos» e, definitivamente, não é um livro que cative nas primeiras páginas, que se folhei com rapidez, com sofreguidão, com desespero. No entanto, é um romance que nada tem a ver com a absolutamente divinal saga Harry Potter mas que, de uma forma algo distorcida e inexplicável, possui o seu quê de especial, o seu quê de mágico no que respeita ao modo como aborda a trama, como elabora as suas personagens, como presta atenção aos detalhes, aos infortúnios, às desgraças. Sem medos, sem complexos, tanto apresenta o que de bom existe no ser humano como, em igual medida, mostra todas as maldades, todas as invejas, todos os egoísmos que transformam esse mesmo ser humano na pessoa que realmente é.
J. K. Rowling é mestra na sua arte. E, embora inicialmente não a tenha reconhecido nesta obra, não a tenha vislumbrado neste texto, ao avançar para o desfecho final, para o colmatar de tantos acontecimentos marcantes e reais, consegui encontrá-la. Porém, o que surpreende é que Rowling nunca deixou de lá estar, nunca se escondeu, nunca fez por passar despercebida... simplesmente mostrou uma outra sua faceta, um seu outro lado maduro, mais perturbador, mais credível, menos... usual.

Se existe livro em que as personagens são a verdadeira essência da história, então sem dúvida de que Uma Morte Súbita é esse livro. Como uma peça de teatro que não sobrevive sem a graça e presença dos seus actores principais, este é um enredo que, de uma forma ou de outra, se centra exclusivamente em torno das várias famílias que povoam a narrativa. O que, por sua vez, se reflecte na fluidez que a própria leitura sente falta. Tratando-se de uma obra sobre pessoas, sobre uma comunidade disfuncional, a atenção recai nas caracterizações e personalidades de cada voz peculiar, descuidando assim a acção repentina e constante que persuade e agarra tanto um leitor experiente como um mero curioso. Porém, é esse lado mais descritivo, menos apressado e mais prudente, ponderado, o estigma que transforma esta numa leitura mais pausada e ousadamente segura.

Outro dos elementos importantes serve de ferramenta que conduz toda a trama, que elabora cada possibilidade, que tece cada destino, e esse cinge-se, claramente, aos vários temas – muitos deles actuais e destrutivos – abordados ao longo da narrativa. Desde o ciúme ao medo, do uso de drogas ilegais à prostituição, do abuso parental à negligência, passando pela pedofilia, pela esperança furtada, pela instabilidade social e política, pela tortura da violação, pelo uso da força, pela traição... este é um romance que expõe, da forma mais crua e cruel possível, todas estas situações e muitas mais. Sem preconceitos linguísticos, sem abandonos de identidade, Rowling escreve aqui, em Uma Morte Súbita, e atinge de tal forma uma sociedade actual que, no meio de uma pequena vila inglesa, nada existe que esconda a realidade, a verdade, dos vizinhos.

Quanto a mim, ainda não sei bem quais os resistentes sentimentos relativamente a esta leitura. Se, por um lado, foi um choque a audácia e coragem da escritora ao não ser convencional, ao ir contra as regras, contra a corrente, por outro, esta não foi uma história que me tivesse cativado, que me tivesse deslumbrado e enamorado como Harry Potter o fez. Não comparar a saga de uma vida com este novo trabalho, é tarefa impossível, pois as trafulhices daquele jovem feiticeiro foram aventuras que acompanharam a minha adolescência e que, em última instância, me permitiram, que fizeram apaixonar por um género que, hoje em dia, persiste em ser o meu favorito – a fantasia. Contudo, embarcar nesta viagem com uma perspectiva Potteriana, com uma esperança mágica, é o maior erro que um leitor poderá fazer – e escrevo-o por experiência própria.

Esta é uma forte aposta da Editorial Presença, num romance perfeito, diferente, interessante e com uma perspectiva peculiar para todo e qualquer leitor que desconheça o mundo encantado de Potter, mas que, de igual modo, poderá seduzir leitores seguidores de Rowling que, de alguma forma, queiram experimentar algo inteiramente novo.

Para mais informações sobre a obra, consulte Uma Morte Súbita

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